Por Marília Gehrke
Quem participou do Dia dos Dados Abertos, o Open Data Day, em Porto Alegre no último sábado, 7 de março, aprendeu mais sobre o ecossistema em que vive. Por meio de gráficos, figuras, mapas e até mesmo um novo banco de dados divulgado durante o evento, três painelistas explicaram o impacto da instalação da Mina Guaíba.
O projeto envolve uma exploração de mina de carvão, que afetará Porto Alegre e sua região metropolitana. Se isso ocorrer, cerca de 166 toneladas de carvão poderão ser extraídas em 23 anos. Um dos principais problemas é a poluição: o Rio Jacuí e, consequentemente, o Lago Guaíba, que fornece água para a cidade, correm risco de contaminação. Aproximadamente 4,6 milhões de pessoas seriam afetadas.
“Como a sociedade pode se sentir segura em relação à mina de carvão?”, perguntou o geólogo Rualdo Menegat, professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e um dos participantes do painel. Segundo ele, o projeto que visa iniciar a exploração de carvão não prevê riscos potenciais e emergências ambientais – desastres naturais, explosões, incêndios, tempestades e inundações podem ocorrer. Menegat também apresentou uma tabela periódica de substâncias que fazem parte da composição química do carvão. “É lixo químico”, resumiu.
A professora Marilene Maia, coordenadora do Observatório de Realidades e Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos (Observasinos), acredita que a ciência e os dados são essenciais para que as pessoas estejam cientes dos riscos da mina, bem como da transparência pública. Ela disse que às vezes os dados estão disponíveis, mas não são acessíveis porque os cidadãos não os compreendem.
O pesquisador Iporã Possantti, engenheiro ambiental e também membro do Coletivo Ambiente Crítico, organizou e divulgou um novo banco de dados para capacitar a comunidade e inspirar as pessoas a investigar. Informações territoriais e georreferenciadas permitirão a criação de mapas e promoverão subsídios para análise de dados. O principal objetivo, disse ele, é oferecer dados estruturados que já são públicos em locais diferentes, mas que podem desaparecer dependendo da decisão dos governadores.
O Dia dos Dados Abertos em Porto Alegre também teve um workshop para estimular o uso da Lei de Acesso à Informação para obter dados governamentais que não estão disponíveis ao público, a menos que alguém solicite. O advogado Bruno Morassutti, especialista nesse tópico, mostrou vários exemplos de como acessar sites para solicitar informações. Morassutti também apresentou a legislação ambiental no Brasil para apoiar os argumentos para os pedidos.
O público pôde fazer perguntas durante o evento. No primeiro painel, jornalistas convidados – freelancers e profissionais de diferentes mídias – iniciaram o debate. No geral, a comunidade expressou preocupação com o futuro dos eventos ambientais, quem não conhecia os dados apresentados se surpreendeu. “Não é um evento que começa amanhã e termina no final do ano. Isso afetará as gerações futuras ”, disse Menegat sobre a Mina Guaíba.
Cerca de 60 pessoas participaram do Dia dos Dados Abertos em Porto Alegre. Pelo segundo ano consecutivo, as jornalistas Marília Gehrke e Taís Seibt, da Afonte Jornalismo de Dados, organizaram a programação com apoio do curso de Jornalismo da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) Porto Alegre. Afonte foi uma das organizações contempladas por fundos de incentivo oferecidos pela Open Knowledge Foundation para a promoção do evento, que ocorre mundialmente todos os anos.
Todas as apresentações do Dia dos Dados Abertos em Porto Alegre estão disponíveis online. O evento foi coberto pela mídia regional e por meio de posts no Twitter e Instagram.