Por Sérgio Trein*
Ainda no mês de junho, foi aprovado o adiamento das eleições municipais. Sim, com a pandemia, até esquecemos que teremos eleições neste ano. A votação, que ocorreria em outubro, foi adiada para novembro. Repare que utilizei o verbo adiado e não prorrogado, porque dessa forma fica garantido o período dos atuais mandatos. A referência é importante, porque muitos prefeitos, partidos políticos, deputados e senadores queriam a prorrogação dos mandatos. Até fizeram pressão para isso, sob a alegação de que, suspender as eleições deste ano, com a prorrogação dos atuais mandatos municipais, garantiria a coincidência de pleitos em 2022.
O que está por trás disso é um pouco maior. Na realidade, a pandemia praticamente eliminou um ano da gestão dos prefeitos municipais. Em especial, porque já se tornou uma prática política e administrativa deixar a entrega e a finalização das grandes obras e projetos justamente para o último ano do mandato, mais perto das eleições, e assim estar mais presente na cabeça do eleitor, quando ele decidir em quem votar. E, neste ano, inaugurar obras não será possível. Uma perda estratégica, principalmente para quem busca se reeleger.
Some-se isso ao medo e à insegurança das populações, as incertezas sobre o vírus e sobre como será a nossa vida em termos sociais, financeiros e de saúde. O que temos como resultado, é o temor de muitos gestores públicos de não serem reeleitos. Mas o receio é ainda maior. Além de perder o apoio da população e ter a possibilidade da sua rejeição aumentar, em função da falta de confiança e de credibilidade por parte da população, há ainda o risco de perder o apoio dos empresários.
Pressão sobre prefeitos
Vale a pena lembrar que, segundo uma pesquisa realizada pelo Sebrae, a crise proporcionada pela Covid-19 afetou diretamente a vida de 5,3 milhões de pequenas empresas no país, o equivalente a 31% do total. Além destas, outras 10,1 milhões de empresas (58,9%) acabaram interrompendo as suas atividades momentaneamente. Fora as médias e as grandes empresas. De acordo com outra pesquisa, realizada pelo IBGE, mais de 716 mil empresas fecharam as portas desde o início da pandemia no país.
Assim como perder o voto do eleitor é ruim, perder o apoio dos empresários também traz prejuízos, pois é um segmento que contribui muito para os municípios, seja através de impostos, seja através de parcerias público-privadas e até para as campanhas eleitorais – mesmo que doações diretas de empresas sejam proibidas, nada impede que seus sócios façam aportes financeiros em campanhas.
Com certeza, é um papel difícil o de prefeito nesta pandemia. Como o governo federal tratou o problema como uma “simples gripezinha” e os governadores precisam gerenciar as diversas regiões de seus estados, sobrou para os prefeitos. São muitas costuras, muitas pressões, muitos decretos sendo criados para contentar todas as partes. Decretos que, muitas vezes, mudam da noite para o dia em função dos diversos interesses. Sem falar na mídia e na disseminação de notícias falsas e de desinformação.
Pouco tempo de campanha
Por outro lado, a pandemia tem estendido por mais tempo a necessidade de isolamento e o distanciamento social. Se há um prejuízo claro para a reeleição dos gestores municipais, como vimos anteriormente, ainda assim os atuais prefeitos levam uma vantagem em relação aos seus concorrentes: o tempo menor de campanha eleitoral torna-se um problema também para os adversários políticos.
A razão é muito simples. O foco maior das atenções agora é na descoberta de uma vacina para a Covid-19 e para um eventual fim do isolamento. O ano se aproxima do final. Para a opinião pública, as prioridades são outras, que não as eleições. Com isso, os candidatos de oposição também terão menos tempo e menor visibilidade para se apresentar e expor as suas ideias. Eu arriscaria a dizer que isso faz crescer bastante a chance de reeleição de que já está no poder.
De qualquer forma, seja quem está no poder ou quem quer chegar lá, precisa entender que não haverá nem muito tempo nem muito espaço para campanhas de rua. O horário gratuito de propaganda eleitoral já havia sido diminuído. Restam os apoios estratégicos, como o dos empresários – aqueles mesmos que estão pressionando os prefeitos a flexibilizar a reabertura dos negócios – e que podem ser um excelente canal de multiplicação de votos.
E, também, a campanha nas redes e nas mídias sociais. Se este já vinha sendo um canal que vinha crescendo em importância na conquista e na manutenção do voto, especialmente neste ano, será de uma importância ainda maior. Nesse sentido, tanto as mensagens propositivas como a desinformação certamente estarão presentes. Não apenas se torna importante investir em estratégias digitais diferenciadas, como também é importante estar preparado para a checagem das notícias e como responder às possíveis mensagens de desinformação.
A saúde sempre foi um dos temas principais nos programas partidários e nos programas eleitorais. Este ano, a saúde vai se transformar num fator estratégico de escolha dos meios e dos canais para melhor comunicar as mensagens.
*Sérgio Trein é publicitário, pós-doutor em Comunicação, coordenador dos cursos de Pós-Graduação em Marketing e Inovação no Grupo A, ministrante do curso online Marketing Eleitoral na Era das Fake News.
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